Nível de ansiedade: do Anhembi à Sapucaí

Felipe Cruz - MTB 0063803

As escolas de samba do Rio de Janeiro estão à frente no quesito enredo para o carnaval 2024 se compararmos aos projetos apresentados na terra da garoa. Ressaltando que meu objetivo aqui nesta crônica não é comparar se “Anhembi está melhor que Sapucaí”. Acalmem os corações! Somos todos Amantes do Carnaval.

Aqui em sampa, se tratando de grupo Especial, a Mancha Verde é a única a fazer a divulgação oficial do tema para o próximo carnaval; nenhuma outra escola apresentou seu enredo.

Porém, nas redes sociais, algumas agremiações adiantaram ou soltaram mini spoilers dizendo que têm o projeto em mente e/ou trabalham nos toques finais para o lançamento. A atual campeã, por exemplo, a Mocidade Alegre, revelou a data e mandou reservamos o dia 13 de maio em nossa agenda. O encontro também celebrará a festa das campeãs, com Imperatriz e Vai-Vai.

O que eu achei surpreendente e de um cuidado ímpar foi a escola escolher justamente o dia da abolição da escravatura no Brasil para fazer uma grande festa. Logo vem à mente um trecho do samba campeão da Morada: “Pode ter fé, que todo preto pode ser o que quiser”.Aguardemos.

A escola que voltou nos desfile das campeãs desse ano como quinta colocada, a Dragões da Real, também já decidiu que no dia 27 de maio lança mais um início de um capitulo que será escrito em sua história. O que vem por aí?

A recém promovida Especial e dona do posto de maior campeã da folia paulista, a poderosa Vai-Vai, parece ter uma escolha encaminhada. Nas redes sociais do novo carnavalesco da casa, Sidnei França, parece que já existe uma nova história: “Vou para o meu 19° enredo e 15° desfile como carnavalesco e digo sem medo de errar: nenhum deles me desafiou e fez ressignificar a minha identidade quanto este que será anunciado em abril”. E completa “preparar este enredo tem sido um mergulho profundo nas minhas convicções. Que potência!”.

O que nos espera em 2024 na Bela Vista?

Pelo Acesso 1 de São Paulo a Nenê de Vila Matilde, onze vezes campeã do Especial, também já tem tema divulgado: “Cirandando a vida de lá pra cá. Sou Lia, sou Nenê sou de Itamaracá”. Forte homenagem a Lia de Itamaracá.

Enquanto isso, na cidade maravilhosa diversas escolas já decidiram como desfilarão no próximo ano. Além das tradicionais Mangueira e Salgueiro, que já haviam revelado seus projetos: “Alcione” e “Hutukara”, respectivamente. A campeã de 2023 Imperatriz Leopoldinense, irá mergulhar na história de um testamento de uma cigana; um personagem fictício do escritor de cordel paraibano Leandro Gomes de Barros, considerado inventor da literatura de cordel no Brasil. Este enredo escolhido pelo carnavalesco, também Leandro, mas de sobrenome Vieira, leva o nome: “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”. O tema será baseado em um dos folhetos do autor nordestino, escrito há mais de cem anos.

Se em 2023 Gabriel Haddad e Leonardo Bora trouxeram uma figura característica da cultura do Brasil pra avenida, que foi Zeca Pagodinho, em 2024 não será muito diferente. A Grande Rio escolheu falar sobre as mitologias e símbolos que a onça pintada possui nos diversos povos indígenas. “Nosso destino é ser onça” é o enredo da Tricolor de Caxias pro ano de 2024.

A Porto da Pedra vai mergulhar na literatura que aborda o saber popular e seus ensinamentos. O Tigre, que voltará à elite após ser campeão da Serie Ouro, apostará em: “Lunário Perpétuo a profética do saber popular”. Inspirado em um livreto escrito pelo espanhol Jerónimo Cortés e traduzido por Antonio da Silva de Brito no final do Sec XIX. O livreto Lunário Perpétuo, teve papel importante na cultura do nordeste do Brasil influenciando muito as vivências e as tradições da região do país.

As escolas do Rio parecem ter “combinado” a escolha de enredos inspirados em histórias. Outra a se debruçar num livro foi a Majestade do Samba. A Portela anunciou no dia 01/04 a escolha de: “Um defeito de cor”. Uma história que conta a trajetória da personagem Kehinde,que narra a vida de Luísa Mahin. O livro Um defeito de cor, escrito em 2006 por Ana Maria Gonçalces, recebeu o prêmio Casa de Las Américas na categoria Literatura Brasileira em 2007. E é com essa potência literária, se baseando no olhar do afeto, fator que envolve a escola e o romance literário, que a Portela vai passar no seu 101º desfile.

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A última comunidade a matar a ansiedade dos sambistas foi a Paraíso do Tuiuti, na manhã do último dia 5. A amarela e azul de São Cristóvão vem contar a história de João Candido com o enredo: “Glória o Almirante Negro”. Uma homenagem ao líder da Revolta da Chibata. O marinheiro que ficou conhecido por reivindicar os direitos dos marinheiros por melhores condições de trabalho e que quando eram acusados de indisciplina ou má conduta; recebiam duras penalidades através de chibatadas, mesmo após anos da abolição da escravidão. Me fez lembrar Camisa Verde e |Branco 2003.

Os desfiles de 2024 do carnaval carioca estão recheados de história, personagens marcantes da nossa cultura e brasilidades. Será que São Paulo seguirá um caminho semelhante ? Só sei que estou ansioso. Que venha o carnaval 2024!

Crônica escrita pelo estudante de jornalismo Aldrean de Oliveira

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