Francisco José das Chagas, mais conhecido como Chaguinhas, é o personagem central do enredo 2023 da escola de samba Mocidade Unida da Mooca em 2023. Mas agremiação não quis apernas retratar a história desta personalidade, mas sim evidenciar um apagamento histórico que acontece na região central de São Paulo, no bairro da Liberdade.
A MUM trouxe alegorias sofisticadas e muita empolgação entre os componentes, mas cometeu algumas falhas de evolução ao longo da apresentação. Nossa equipe presenciou um grande “buraco” à frente da ala de baianas no momento que elas passavam em frente a arquibancada monumental.
O desfile, que aconteceu neste domingo (19) foi, de acordo com os carnavalescos Caio Araujo, Willian Tadeu e Wallacy Vinicius, a história de um soldado negro que se revoltou contra a Coroa Portuguesa e foi executado, onde hoje é o bairro da Liberdade. Inclusive, o bairro recebeu esse nome por conta da sua execução. Na ocasião, a corda de sua forca arrebentou 3 vezes, o povo considerou isso um sinal divino e clamou por sua libertação, que foi negada.
Desde então, a figura de Chaguinhas passou a ser alvo de devoção naquele local. “Ao longo da história, a figura de Chaguinhas foi sendo apagada, junto à verdadeira história do bairro. Atualmente ele é símbolo da resistência negra na Liberdade, um santo popular e uma figura que mostra a importância de lutarmos contra o apagamento histórico da população negra dentro da história do Brasil”, destaca Caio Araujo.
História, misticismo e fé se misturam para contar um milagre ocorrido no Bairro da Pólvora, hoje Liberdade, memória guardada pelas mães pretas. Tentaram matar um homem preto revolucionário na forca e, por três vezes, a corda se rompeu. Este setor percorre a síntese do milagre, apresentando o ponto central do enredo na comissão de frente e, em seguida, evoca as mães pretas para contarem a história de Chaguinhas e a Revolta Navista.
A fé popular em Chaguinhas move nosso olhar para os fatos ocorridos após a Revolta Navista ser conda. Chaguinhas é levado para São Paulo, onde ocorre o milagre do rompimento da corda, que é renegado, mas sua chama não se apaga. A história se espalha e cresce a crença em torno do Santo Negro da Liberdade. O afrocatolicismo da região constui o grande altar imaginário a Chaguinhas.
As reverberações de Chaguinhas atravessam os tempos desde sua morte. Entre festejos e procissões, a trajetória que a História Oficial tenta apagar sobrevive na memória. A cada grande edicio que soterra o negro cemitério, o grito dos Aflitos ecoa mais forte e evoca o grito dos excluídos, aqueles que ainda buscam a verdadeira liberdade neste Brasil de sangue rento que insiste em se esconder.
Assista ao início do desfile da agremiação: